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Maratona de Curitiba – O dia D, coquetel MOLOTOV… e o desafio maior

19/11/18, KM 28: Dores

Minhas canelas estão doendo demais, ainda dentro do suportável, mas por quanto tempo minha cabeça vai aguentar? Ainda tenho mais 5 km até o 33… As subidas estão me matando… Mas elas não são nada perto do desafio que eu aceitei…

Para entender essa história de desafio, preciso revelar o fato que ocorreu algumas semanas antes…

20/10/18 8am: O Desafio maior

Olho no celular e vejo que recebi um email com o título “A Serra te escolheu”. Gelei. “É mesmo o que estou pensando?”. De fato eu tinha sido sorteado para os 42km da Mizuno Uphill. Um mix de alegria com “estou frito”. Meu treinador Zé Renato tentou 3x e desistiu e eu consegui de prima kkkk

Não sabia era sorte ou azar…. mas foi uma loucura me atrever a correr a maratona de rua mais difícil do Brasil sem ter corrido nenhuma maratona antes hahahaha

Mas não tive dúvidas, assim que recebi o link para inscrição já me registrei para participar da prova. Logo recebi o e-mail de confirmação dizendo “Agora é só subir.” hahahaha

Avisei o Zé que havia sido sorteado e ele me parabenizou e disse “vai ser divertido treinar você para essa prova”. Teria sido sadismo?

Para não desviar muito do assunto principal, só resumindo: meu foco e minha determinação mudou totalmente desde aquele e-mail… o que o medo não faz por nós….

Voltando…

19/11/18 5am: Acordo com o despertador, dormi pesado apesar da ansiedade. Estava tudo organizado então foi fácil vestir tudo e pegar os equipamentos. Um item foi especialmente escolhido, a camisa da minha ex-assessoria Gui Almeida, uma homenagem já que a maior parte do treinamento eu devo a ela. Seria a última corrida que eu usaria ela.

19/11/18 6am – O dia D chegou

Desço para o café e lá estava a trupe de corredores animados para encarar aquele sobe e desce por Kurytiba. O café foi bem leve, só banana, suco de laranja e um cafezinho puro.

O clima está bem nublado, o que era ótimo, pois geralmente o calor castiga os maratonistas aqui. O hotel é muito perto da arena e da largada. A largada e chegada são no mesmo lugar, o Centro Cívico, que fica ao fim de uma grande reta, levemente inclinada.

A Ju acordou para me ver largar e disse que ia voltar para o hotel, dormir e acordar de novo para a minha chegada (kkkk) também pudera, seriam 4 horas de espera pelo menos, dá pra dormir muito.

Quase errei o lugar da largada, tive que dar a volta toda e acabei lá no final da fila. Mas tudo bem, hoje não estava pra bater tempo e sim pra chegar vivo! O narrador já ensaiava a largada, fazendo os últimos anúncios.

19/11/18 7am – Concentração na largada

Contagem regressiva! Nessa hora passa um monte de coisas na sua cabeça. Mas eu me concentrei em apenas uma coisa: NÃO FORÇAR NO INÍCIO!!! Eu pensava também muito na Uphill, que se não conseguisse ir bem aqui, como poderia ousar a Uphill?

Deu a largada e logo atravessei o pórtico, concentrado em não forçar no início. Sem sentimentalismos, encarei como uma prova qualquer o começo, não havia motivos para comemorar ou me apavorar, eu sempre acho que muita emoção no início não ajuda, deixo isso para o final.

A descida no início anima, assim como a beleza do centro da cidade. Logo me distraí, estava tranquilo e relaxado, o que foi bom.

19/11/18 8am – O início tranquilo

Já havia passado por algumas subidas longas e curtas, um belo sobe e desce é essa prova! Passei bem a marca dos 10km sem sinais de cansaço, mantive o pace de 5:30 até aqui apesar da altimetria. Por hora me pareceu um início excelente.

Ao contrário do que imaginei, não há muito apoio popular dessa prova, até uma certa animosidade do povo. Muita gente ficou surpresa com os bloqueios e reclamava, motoristas nervosos e ciclistas indignados. Eu lembro que o taxista que me pegou no aeroporto não sabia da prova. Acho que faltou comunicação.

Uma coisa engraçada foi o povo reclamando do governador do estado, xingavam muito ele durante a prova kkkk

19/11/18 9am – A metade e o desânimo

Passei os 21km um pouco abaixo das 2h. Nesse ponto, houve a troca dos corredores que faziam a maratona em revezamento. Não sei explicar o motivo, mas isso me DESANIMOU MUITO. Quando vi o pessoal começando a sua corrida ali, cheio de energia, parece que minha mente se deu conta que eu ainda estava apenas na metade da maratona.

Se para a maioria das pessoas que correm (ou tentam) a distância de 42k o muro é depois do 30km, para mim chegou nos 21k. Parece exagero, mas minha energia se esvaiu, meu corpo ficou dolorido e principalmente minha motivação diminui muito. Já corri provas muito duras, como Igaratá, Bertioga-Maresias e Volta da Represa, além dos treinos longos de mais de 30 km, só que nunca senti essa “bodeada” antes.

Meu pace começou a piorar, mas eu fiz força para ele não cair muito. Estava difícil correr… Ia ficar assim até o fim?

Lembra do início do texto, quando estava no km 28?

Não sei também o porquê das minhas tibiais doerem, outra coisa sui generis que não aconteceu em nenhum treino ou prova. Talvez fruto da força que estava tendo que fazer pra manter (ou quase) o ritmo.

Você que ainda lê deve estar pensando o que aconteceu do 21 ao 28, onde encontrei força pra continuar. Bem, por mais que toda aquela neura veio a tona, eu tinha algumas cartas na manga. Não foi à toa que escolhi Curitiba, a cidade é muito bonita, cheia de coisas interessantes, além de ser algo fora da rotina. Isso acaba sendo uma distração positiva.

Claro que passava um filme na minha cabeça dos meus treinos, tratamentos, dificuldades e do privilégio de estar ali. Isso é claro que ajuda a levantar a motivação.

A UPHILL foi o fato novo que apareceu, que eu sabia que era uma loucura participar e que eu precisava passar por aquele “teste” para minimamente ter alguma chance de subir aquela Serra. O medo também é um ótimo motivador kkkkkkk

Mas o que realmente me fazia manter o foco era o km 33. Por quê? Porque na minha cabeça, esse km era muito significante, tanto porque seria a maior distância que já teria corrido na vida, o que me animava bastante, quanto significaria que só faltavam 9km. Menos que 10 parecia pouco e me daria muito ânimo.

Só não contava com as dores na canela… a dor acaba com a nossa mente, impressionante, desanima e te cansa. Por sorte, ou sabedoria, eu trouxe um ADVIL para caso eu tivesse problemas no joelho, que era o que me assombrava. Porém, por experiência própria, eu sabia que o efeito do remédio durava apenas alguns kms.

Então eu cheguei a conclusão que precisava a aguentar essa dor até os 33 quilômetros a qualquer custo. Ali eu teria toda a injeção de ânimo, mais o analgésico que faria eu me impulsionar até o final. Um coquetel MOLOTOV de remédios, gel, cápsula de sal e motivações.

E foi isso que fiz no km 33…

KM 35: O efeito da estratégia coquetel MOLOTOV

Sem dores e com motivação renovada, me senti leve e correndo fácil. Estava me contendo para não acelerar e fazer tudo ruir. Mas o efeito do MOLOTOV foi fantástico.

Sabia que a sensação duraria pouco tempo, mas foi ótimo ter esse impulso. Tudo motivava: o vento no rosto, a paisagem, até falar com outros corredores. Nessa hora comecei a correr lado a lado com um cara que estava fazendo revezamento. Ele era de Curitiba e personal trainer. Ele me perguntou se era minha primeira maratona. Respondo que sim e ele me diz que estou super bem, com boa postura e que devia continuar daquela forma. Fui usando ele como coelho.

KM 40: Os viadutos e uma nova motivação

Posso dizer que a parte final da maratona de Curitiba é muito dura. Percebi que paguei um pouco caro por não ter maneirado nas subidas no início, pois no final tem alguns viadutos que acabam com a gente.

As dores nas canelas voltaram como eu eu havia imaginado que retornariam. Tava difícil manter o pace, mas se aproximando dos 40 km isso não faria muita diferença, eu já estava muito feliz de ter chegado ali e não pararia de jeito nenhum.

Passando os 40 eu avistei a reta final por cima do viaduto e também deu pra ver pequenininha a chegada. Faltavam pouco mais de 2km para realizar um sonho!

Olhei no relógio e percebi algo que até então não estava me atentando: eu poderia fazer abaixo de 4h se aumentasse um pouco a velocidade. Será que era possível com as minhas canelas doendo tanto?

Se eu quebrasse não faria diferença nenhuma, eu iria me arrastando se necessário. Então por que não tentar?

Acelerei e comecei a deixar meu coelho para trás…

Km 42: A chegada e as cadeiras abençoadas

Lembra do retão do início? Os últimos 2km eram uma subida a la 23 de maio de SP. Quando entrei nela eu sabia que eu já seria maratonista, mas eu queria o sub 4!

Fazia muita força, mas o pace não melhorava nada, parecia que o gps tinha perdido o sinal. Realmente eu estava muito cansado e não dava pra fazer nenhum milagre naquela hora, fiz o que foi possível. Nas minhas matemáticas ainda tinha uma pequena folga, por via das dúvidas seria melhorar aumentar um pouco aquela folga.

Ah, o público! Na reta final tinha muita gente esperando e dando forças para todos os corredores. Os maratonistas eram os mais aplaudidos. Não dá pra dizer que aquilo melhorava a dor, agora quase insuportável, nas canelas, só que era uma sensação maravilhosa ver o quanto o meu esforço era reconhecido.

A retona que parecia infinita estava acabando e já dava pra ver claramente o pórtico de chegada após a placa de 500m. A foto na placa dos 42 ficaria para outra oportunidade kkkk

E uma surpresa maravilhosa no final: cadeiras, abençoadas cadeiras me aguardavam depois da linha de chegada! Aquilo me animou tanto qie consegui acelerar um pouco. Faltando 50m, com o narrador me parabenizando, entrei no tapete vermelho que estava antes da chegada. Com certeza uma das maiores emoções da minha vida.

Cruzei a linha de chegada. E sentei naquela abençoada cadeira, maravilhosa. As dores nas canelas sumiram. Lágrimas.

Minha estreia na Maratona e um sonho realizado. De brinde veio a confirmação no celular: 3h59m42s. Tinha feito sub 4h.

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Daniel Seto
Corredor amador, amante de esportes e de tecnologia

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