25 de janeiro, sexta-feira, feriado na cidade de São Paulo.
Juntamos um grupo de amigos, 5 meninas e 2 meninos, e fomos para Ilhabela, fazer a trilha que sai de Borrifos e vai até Bonete, onde pegamos uma pousada para passar o resto do feriado.
Aproximadamente 15km de trilha, com 3 cachoeiras para banho no meio do caminho, umas 4:30 horas de caminhada, indo de boa, e parando nas cachoeiras.
A gente treina, nada, pedala, corre, faz musculação, corrida de montanha, não precisávamos nos preocupar com a trilha. Estávamos preparados.
Chovia muito desde a hora que entramos no ônibus (grande circular Ilhabela lado sul rs), que nos levou da balsa de Ilhabela até Borrifos.
Praticamente 1 hora dentro do ônibus, num caminho bonito, mas que já me deixava muito nervosa, porque a chuva não dava trégua, e em alguns momentos, só piorava.
Sem contar os raios, e todo mundo sabe que raios e mata não dão match.
Nesse momento, coloquei meu pijama na única sacolinha de mercado que eu tinha dentro da minha mochila, pensei em dormir seca pelo menos.
Tiramos uma foto no início da aventura, passamos repelente, comemos alguma coisa e começamos.
Parecia uma estrada fácil, e quem já tinha ido nos disse que a trilha era boa, mas acredito que nunca ninguém pegou aquela chuva no meio daquela trilha.
Passamos pela primeira cachoeira, e mesmo eu, que adoro cachoeiras, e me jogo mesmo, achei que seria impossível entrar e nadar ali. O volume de água era muito grande.
O nosso caminho da trilha, era praticamente um riozinho, de tanta chuva que caia.
As mochilas que já começaram pesadas, só iam aumentando de peso, conforme a chuva encharcava a gente.
Era uma chuva torrencial na maior parte do tempo.
Encontramos pessoas no meio da trilha, no sentido contrário, que ou não falavam nada, ou nos desejavam sorte.
Passamos por alguns pontos, que nos fazia questionar se eram as cachoeiras ou apenas a enxurrada que caia.
Descobrimos que era a enxurrada, porque as cachoeiras mesmo, tinham pontes para passarmos por cima.
Nos ajudamos para passar por elas, na verdade os meninos nos ajudaram muito, mas chegou num ponto, que não dava.
A correnteza, da cachoeira, não mapeada, formada pela chuva era muito grande, a gente precisaria de uma corda, e o grupo que tinha acabado de cruzar esse ponto, não estava disposto a nos ajudar, porque segundo eles não íamos (sim, as mulheres como eles ressaltaram) conseguir atravessar ali e eles não queriam se responsabilizar.
Pausa para uma análise bem fria sobre esse acontecimento: eles disseram que eram guias experientes da região, então fica a pergunta, quem com tanta experiência, sabendo dos perrengues que nós passamos para chegar até ali abandona um grupo no meio da trilha, no meio de uma tempestade? Pois é…. Muitas vezes eu prefiro bicho do que gente.
Nesse momento, eu só pensava o que eu estava fazendo ali. Queria continuar, mas não sabia o que nos esperava mais para frente, e ainda tinha aquela chuva, mochila pesada, cansaço, fome.
Um outro grupo que estava um pouco atrás da gente nos alcançou, contamos o que tinha acontecido, e eles tinham uma corda.
Ainda pensamos um pouco a respeito sobre voltar ou não, mas decidimos continuar. A travessia foi bem mais fácil do que parecia, mas isso também, porque a chuva já tinha dado uma trégua.
Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que a melhor coisa que a gente fez, foi continuar.
Nesse ponto do impasse estávamos bem no meio da trilha, e a metade final foi menos difícil do que a primeira parte, e depois de aproximadamente 6 horas a gente viu a praia do Bonete, e foi uma mistura de dever cumprido, alivio, e felicidade.
Paramos para tirar fotos, comer alguma coisa, e olhar a praia que seria nossa pelos próximos 2 dias.
A gente tinha conseguido! E por mais clichê que essa frase seja, ela é a pura verdade: a gente só descobre o quanto é forte, quando a única opção é ser forte.
E a gente foi muito forte, e maluco também.
Nesse ponto eu até voltei a falar com as pessoas. Para uma pessoa que fala mais do que a boca, como eu, foi até surpreendente ficar praticamente calada durante 6:00 horas.
Meus amigos até comentaram isso, mas eu estava bem nervosa, e quando eu fico tensa, a primeira coisa que acontece, é eu literalmente perder a fala.
A gente tem plena consciência que só conseguiu porque um ajudou o outro, e posso falar sem sombra de dúvidas, que com esse grupo, eu topo qualquer coisa.
Chegamos na pousada, fizemos o check-in, e fomos desfazer as malas.
Dava para torcer as roupas, todas molhadas. Aliás, tudo que estava dentro das mochilas estava ensopado.
A minha sorte foi ter colocado o meu pijama na sacolinha.
A ideia era tomar um banho, trocar de roupa, e sair para comer alguma coisa, mas colocamos a roupa para secar, e fomos direto jantar, porque naquele momento, as roupas mais secas que a gente tinha eram as que estávamos vestidos, mesmo com toda a chuva que tomamos durante todo o dia.
Nesse dia, 8:00 horas da noite, a gente já estava na cama.
Os outros dois dias foram maravilhosos, sem chuva, com muito sol e roupa seca para vestir rs.
Bonete é uma vila de pescadores, que tem o seu tempo para tudo.
A cidade é abastecida de energia por placas solares, então temos banho quente, comida quente, mas durante a noite, a energia é cortada, e mesmo durante o dia, você percebe que falha um pouco.
Ficamos desconectados do mundo, porque existe wi-fi apenas nas pousadas, e mesmo assim bem fraco.
A praia é maravilhosa, o céu azul, e as pessoas que moram no Bonete fantásticas.
O pôr do sol, foi maravilhoso, a cor do mar, era um azul meio verde lindo de ver, sem contar o contraste lindo com as cores do céu, o mar e o verde da montanha.
A água do mar estava quente, como nos finais de semana anteriores, e ficamos embaixo de uma árvore bem grande, que fazia uma sombra muito boa.
Foram dois dias, curtindo o mar, o rio do final da praia, a paisagem, as lulas fritas e as caipirinhas de folha de mexerica rs. Todo perrengue que a gente passou, foi muito bem recompensado.
Levei meus óculos de natação, porque dependendo de como estivesse o mar, eu ia treinar para a minha prova, mas o mar era bem agitado e puxava muito, então eu achei que a aventura na trilha tinha sido o suficiente para um final de semana rs.
Entre uma conversa e outra, os perrengues da trilha sempre voltavam rs.
Ficamos pensando se faríamos a trilha novamente, e a resposta é com certeza, mas não nessas condições.
O ser humano é uma coisa bem estranha, porque depois que passa a tensão, mesmo falando que não faríamos naquelas condições novamente, já tínhamos novas estratégias para as novas trilhas, tanto para descer, encarar os desafios, como de equipamentos e métodos para chegar com as roupas secas em caso de chuva.
Sim, somos mais loucos que do que imaginávamos, tanto mais loucos, que já temos uma ideia de qual será a próxima.
Mas isso fica para um outro post…
Beijos
Paty B
P.S. Voltamos de barco para São Sebastião, como mostra as fotos abaixo, e posso dizer que essa foi outra aventura cheia de adrenalina também rs.
P.S. 2 A maioria das fotos foi tirada pelo nosso fotografo oficial Gabriel.
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